Durante anos, o esgoto corria pelas ruas e o mau cheiro invadia casas de comunidades de lugares como Maré, Acari, Parada de Lucas e Vigário Geral, na Zona Norte. Sem manutenção adequada, as estações que bombeiam resíduos para a rede de tratamento deixaram de funcionar plenamente, expondo moradores a riscos de doenças. Depois de décadas sem intervenções de porte, 20 elevatórias — unidades que levam o esgoto de áreas mais baixas até a rede de tratamento, evitando transbordamentos — foram recuperadas nessas regiões, levando alívio para cerca de 170 mil pessoas.
A iniciativa, da concessionária Águas do Rio, empresa do grupo Aegea, envolveu um investimento de R$ 352 mil. As obras incluíram troca de bombas quebradas, reparo de tubulações e instalação de sistemas de monitoramento remoto. Segundo a empresa, a mudança evita que 30 toneladas de resíduos sejam despejadas sem tratamento em rios como o Pavuna e o Acari e na Baía de Guanabara.
Em regiões populosas, como a Zona Norte, essas estações são a coluna vertebral do sistema. Sem elas, o esgoto não chega ao destino certo e acaba exposto nas ruas, aumentando o risco de doenças — explica Rodrigo Pereira, gerente operacional da Águas do Rio.
Para quem vive há anos com esgoto na porta de casa, a transformação é visível. Tatiane Batista da Silva, de 36 anos, nasceu e cresceu em Vigário Geral. Mãe e empreendedora, ela mantém uma loja de roupas na comunidade.
Antes, o esgoto transbordava e invadia minha varanda. Eu tinha cachorro e filho pequeno, era um transtorno enorme. Hoje posso atender meus clientes sem me preocupar com mau cheiro ou esgoto na porta. Isso mudou tudo para a gente — conta.
O funcionário da concessionária Gilson Francisco dos Santos, de 53 anos, também morador de Vigário Geral, diz que nunca tinha visto uma intervenção dessa escala na elevatória local.
Comecei a trabalhar com 22 anos nessa área e só vi a elevatória daqui ser limpa quando foi construída, em 2002. Depois disso, nunca mais teve uma manutenção assim. É um orgulho ver minha comunidade sendo cuidada e poder ajudar nisso de alguma forma.
Além do desconforto, o problema afetava a saúde de quem mora nessas comunidades. Doenças como diarreia, hepatite A e leptospirose, transmitidas por água contaminada, eram uma ameaça constante. De acordo com o Instituto Trata Brasil, mais de cinco mil brasileiros morrem todos os anos por enfermidades ligadas à falta de saneamento.
Com as novas bombas e a automação das estações, a empresa diz ser possível identificar falhas remotamente e fazer reparos antes que o esgoto volte às ruas. Limpezas preventivas também devem ser feitas a cada seis meses.
Fonte: O Globo