O Brasil passou a ocupar um novo espaço na estratégia internacional da Galp com a inauguração do Id.Lab, centro de pesquisa e tecnologia criado para fortalecer as operações de petróleo da companhia no país.
O projeto representa um investimento de R$ 100 milhões e, além disso, marca um momento inédito para a empresa portuguesa, que passa a contar, pela primeira vez, com um centro tecnológico próprio de grande escala em território brasileiro.
Localizado no Centro de Tecnologia e Pesquisa instalado no LIPCAT, na Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, o Id.Lab nasce com a missão de integrar inovação, eficiência operacional e descarbonização.
Segundo a empresa, trata-se de um passo histórico, capaz de transformar o Brasil em um dos principais eixos de desenvolvimento tecnológico do grupo.
Infraestrutura dedicada fortalece operações de petróleo e refino
Diferentemente de iniciativas anteriores, o novo laboratório foi projetado para testar soluções de forma integrada. Conta com infraestrutura própria, equipamentos dedicados e equipes especializadas.
Dessa forma, o escopo de atuação cobre toda a cadeia do petróleo, do upstream ao refino, com foco na otimização da produção, no desbloqueio de ativos offshore e na redução da intensidade carbônica das operações industriais.
Ao mesmo tempo, o laboratório terá papel central no desenvolvimento de combustíveis de baixo carbono.
Essa abordagem reflete a necessidade da indústria energética de responder, de maneira rápida e eficiente, aos desafios tecnológicos impostos por projetos offshore cada vez mais complexos.
Experiência do pré-sal orienta novas soluções tecnológicas
A relevância da inovação no setor de petróleo não é novidade no Brasil. Em 2006, quando as primeiras reservas do pré-sal foram descobertas a cerca de dois mil metros de profundidade, não existia tecnologia disponível para viabilizar a extração.
O avanço dessa fronteira produtiva, hoje uma das mais relevantes do mundo, ocorreu em paralelo ao desenvolvimento de novas soluções tecnológicas.
Grande parte dessas inovações surgiu a partir da colaboração entre empresas, universidades e centros de pesquisa.
Nesse contexto, o Id.Lab surge como continuidade de uma trajetória bem-sucedida, agora com maior escala, governança integrada à rede global de inovação da Galp e foco em resultados industriais concretos.
Parceria com a UFRJ ganha nova dimensão
Antes mesmo da criação do Id.Lab, o LIPCAT já atuava como parceiro científico da Galp em projetos de pesquisa e desenvolvimento.
Com a mudança para o Parque Tecnológico da UFRJ, o espaço passou a contar com infraestrutura ampliada e um modelo de gestão alinhado à estratégia global da empresa.
Atualmente, cerca de 70 pesquisadores, engenheiros e especialistas trabalham em projetos financiados diretamente pela Galp. Além disso, o laboratório brasileiro passa a integrar oficialmente a rede Id.Lab – Laboratório para a Inovação e Descarbonização by Galp, que mantém uma unidade-irmã na refinaria de Sines, em Portugal.
Essa conexão internacional facilita a troca de conhecimento e acelera a validação de tecnologias em diferentes contextos industriais.
Projetos iniciais miram descarbonização e eficiência no petróleo
O Id.Lab inicia suas operações com seis projetos em execução. Entre eles, destacam-se o co-processamento em unidades de refinação, a captura direta de CO₂ para produção de combustíveis sintéticos e o desenvolvimento de rotas para combustíveis sustentáveis de aviação, conhecidos como SAF.
Além disso, a agenda inclui tecnologias de gestão e separação de CO₂ em ativos de upstream. Essas soluções são consideradas essenciais para destravar reservas que ainda não entraram em produção e, ao mesmo tempo, manter a Petrogal Brasil, joint venture entre Galp e Sinopec, entre os portfólios de menor intensidade carbônica do setor de petróleo.
O planejamento tecnológico já avança para além do curto prazo. A partir de 2026, entram no radar iniciativas como o pré-tratamento e o co-processamento de matérias-primas biogênicas, fundamentais para ampliar a produção de combustíveis de baixo carbono com maior valor agregado. Também estão previstas a expansão das rotas de biocombustíveis e a implementação de um programa integrado para desbloqueio de reservas, desenvolvido em colaboração com parceiros de consórcios.
Estrutura de ponta sustenta inovação em escala industrial
A infraestrutura do Id.Lab no Brasil ocupa uma área de aproximadamente 5 mil metros quadrados. O espaço abriga laboratórios especializados, áreas de microscopia eletrônica de alta resolução e impressoras 3D voltadas à prototipagem rápida.
Também conta com reatores catalíticos para captura e uso de CO₂ e hidrogênio, espectrômetros de massa e plantas-piloto completas de hidrotratamento e Craqueamento Catalítico Fluido (FCC).
Essa combinação de tecnologia avançada e escala industrial torna o impacto econômico das inovações potencialmente significativo.
Como resultado, a Galp enxerga fortes incentivos para ampliar investimentos em pesquisa e desenvolvimento, especialmente em projetos aplicáveis diretamente às operações de petróleo e refino.
Resultados concretos já obtidos pela colaboração científica
A parceria entre a Galp e a UFRJ, construída ao longo de mais de uma década, já gerou resultados expressivos. No upstream, foram desenvolvidas ferramentas de inspeção e integridade aplicadas a ativos do pré-sal. Entre elas, destaca-se o RovScan, criado por uma spin-off da universidade e atualmente em fase avançada de industrialização.
No refino, o projeto de combustíveis sintéticos atingiu um marco importante em 2024, ao produzir as primeiras gotas do produto em escala de laboratório. O avanço validou rotas tecnológicas que servirão de base para decisões futuras da companhia.
Outro exemplo é o Projeto Fênix, que utiliza oxigênio proveniente da eletrólise para otimizar a combustão em unidades FCC, contribuindo para a redução de emissões.
Pesquisa conectada aos negócios atuais e futuros
Para o professor João Monnerat, responsável científico pelo Id.Lab, a maturidade da colaboração é um diferencial estratégico. “Aqui desenvolvemos tecnologias que impulsionam diretamente os negócios atuais, do upstream ao refino, e abrimos caminhos para novos vetores energéticos, como hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis de aviação. O laboratório nos permite ir da bancada ao piloto, sempre com foco em eficiência e redução de emissões”, afirma.
A visão é compartilhada por Marco Ferraz, Head of Upstream and Industrial Innovation Center da Galp e responsável pelo Id.Lab. Segundo ele, “o desenvolvimento tecnológico feito no Brasil é estratégico não só para o país, mas para toda a indústria energética. O Id.Lab nasce para acelerar essa entrega”.
Ferraz também destaca que muitas reservas consideradas economicamente inviáveis passam a ser viáveis quando existe tecnologia validada e escalável. Nesse sentido, o laboratório brasileiro amplia a capacidade da Galp de reduzir custos, emissões e riscos operacionais. Além disso, a conexão com Sines cria um fluxo de transferência tecnológica com potencial de licenciamento para outras empresas.
Inovação como eixo de competitividade no setor de petróleo
A diretora de inovação da Galp, Ana Casaca, reforça a importância da iniciativa no contexto de transformação do setor energético. “A força do Id.Lab está na capacidade de transformar pesquisa em soluções aplicáveis, rápido o suficiente para acompanhar a velocidade com que o setor de energia está mudando.
Ao aproximar a Galp da UFRJ e das equipas de Sines, criamos um ecossistema onde conhecimento acadêmico, exigência industrial e visão de futuro se encontram”, afirma.
Segundo a empresa, a nova estrutura consolida um modelo de innovation hub baseado na colaboração estreita com parceiros acadêmicos e industriais. Entre as metas estabelecidas estão mais de 20 publicações científicas por ano, o registro de cinco novas patentes anuais e a ampliação contínua das rotas tecnológicas para combustíveis sustentáveis, mantendo o petróleo integrado a uma estratégia de transição energética e inovação industrial.
Fonte: CPG